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  • Foto do escritorRodrigo Souza

O atentado ao Presidente (Parte 2)


Apesar do susto, ele tenciona seus músculos, mas não descontrola seu indicador sob o gatilho. Ela vê o prateado da arma e o susto congelado no rosto dele. Os olhares se cruzam por longos dois segundos, eternos dois segundos. A médica se desculpa. O rapaz nada diz, comprime os lábios como se evitasse que um pedido de desculpas lhe saísse da boca. Inclina a cabeça para frente sem nada dizer.

Como o pronunciamento do presidente era nas proximidades, as ruas estavam cheias de policiais de campana. Um desses vê a cena e percebe que na mão direita do rapaz há um revólver pronto para ser empregado. Devido a experiência, não faz movimento em direção ao ocorrido, mas se abriga. Gelidamente aciona o dispositivo de comunicação em seu ouvido e chama reforços. Eles se preparam para a abordagem. O homem volta sua atenção para aquilo que por semanas ficou arquitetando com seu grupo. Seus passos ficam ainda mais firmes e ligeiros. O pronunciamento está para começar. Os policiais infiltrados estão em formação e discretamente trocando informações. Um deles se dispõe a fazer a imobilização do rapaz de sobretudo preto. São momentos de tensão.

A médica pede um café forte e sem açúcar. Não interage nada além do necessário para efetuar o pagamento do seu pedido. Ela segura sua xícara. A fumaça sobe em linhas dançarinas subindo o aroma que muito a agrada. Sopra com leveza. Leva aos lábios com precaução. Pow... se ouve um tiro. Gritos. E outro disparo. Uma correria se vê através da vitrine. Rapidamente outros policiais à paisana se revelam empunhando suas armas. No chão! No chão! É a única coisa que se ouve além de gritos indecifráveis. A médica se levanta ao invés de se lançar ao chão. Seu instinto de cuidado com a vida a faz acredita que não haverá mais tiros. Sai lentamente da cafeteria, trêmula, incrédula, mas impetuosa. Vê um corpo caído ao chão. Ela titubeante anda em direção à cena. Não tem muita certeza de que aquilo seja verdade. Será mais um efeito do cansaço que tanto a castiga há mais de 48 horas? O que estou vivendo é real? Perguntou-se com uma voz muito urgente e de um volume alto dentro de si.

É um senhor de cabelos brancos, talvez policial, sangrando. Outros ao redor em urgência a chamar por uma ambulância. Mais adiante um rapaz de sobretudo preto, chapéu ao chão, ainda agonizando, diferentemente do outro. O policial já recebe os primeiros socorros dos próprios colegas. A médica se dirige ao rapaz que de algum jeito se tornou vinculado a ela por causa dos dois eternos segundos. Esses dois segundos de olhar que trocaram que os conectaram. Um tiro no peito. Ela se identifica como médica para os oficiais que iniciam o isolamento. É autorizada a tentar algo. Se abaixa para ver a situação. Ele com muita dificuldade e com mãos gélidas, com um movimento vagaroso pega em uma das mãos da médica. Um bilhete em papel de cor amarela. Ele passa o papel a ela. Ela, discreta, e guarda consigo o pequeno papel, aperta e coloca em um dos bolsos. Ele tem os olhos cada vez mais sem vida. O brilho nos olhos que só o espírito de quem vive mantém, entra em gradativa opacidade. Em pouquíssimos segundos. Breves dois segundos, morre o homem. Ela sente sua pulsação findar.

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