Nos dedos de uma mão
- Rodrigo Souza
- 20 de mai.
- 1 min de leitura

É de se contar nos dedos de uma mão os momentos em que a alma se sente em paz
Um deles é quando se vê um filho dormindo um sono pesado.
Outro é quando há silêncio decorrente do sono pesado de um filho.
O outro, a partir desse silêncio, respirar bem fundo ao lado do sono do filho dormindo profundo.
E ainda,
quando do sono pesado e profundo de um filho dormindo,
se respira fundo,
e nesse silêncio profundo
dizer profundamente teu nome
e calar duas almas
com um só beijo
Após isso não há paz.
Para além disso não há paz,
pois há alma que carrega o sagrado selo
de ser a permanência da mais bonita tristeza,
de ser fértil chão da mais seca realidade,
de ser cão de um inferno de se saber poeta
Importa que se abrace um poeta.
Um poeta nada mais é
alguém que conta nos dedos de uma mão uma vida inteira.
Pois sabe que nasceu para sofrer como ninguém,
para sofrer como sofre todo poeta.
Sempre de uma maneira inédita.
Sofre sempre,
como sofre um poeta.
Até voltar a ser um filho que dorme um sono pesado
Que faz silêncio
Que respira fundo
Dorme profundo
Não diz nada
nunca mais.
E cala todas as almas
com um só enterro.
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