
Dei um gole
Tava quente
Quente não
Tava fria
Não gelada
O copo suado
as bolhas tímidas
demais estavam
Tava ruim
Gostei não mas bebi
Bebi quase até o fim
Por pouco não lembrei de ti
Daí sorri e te ofereci
O fio penoso que caiu
Da lata de cerveja
era orvalho bem finin
com gostinho de tristeza
Entornei com perícia
pra nada ser desperdiçado
Todas, todas as gotículas
apanhei como um sedento desesperado
Renderam um pouco menos que um dedo
Os lábios abrindo
o olhar vidrado
Mas bem pouco antes
daquele gole racionado
dediquei a ti
Levantei a ti
o puro malte estimado
Disse baixinho, embargado:
Um brinde ao nosso amor
Um amor desencontrado!
Você riu
em outro ponto
Na sua casa
ou num encontro
Nesta cidade
em que é comum contar
o resumo de um ponto
o povo sempre parece pronto
pra fazer nascer do pouco relato
um nem sempre belo e imenso conto
A Manaus fofoqueira
logo viu que brindei só
Te imaginei sorrindo
Na garganta deu um nó
Tua boca imagino
O que faz o desatar
Tu nem sabia onde eu estava
e nem pensaste em procurar
Mas eu sozinho ali fiquei
Como nunca soube estar
Nunca antes assim andei
Pra melhor me acompanhar
O lugar tava tão cheio
tão quente
Quente com calor
e cheiro de gente
Te procurei até
Por três vezes eu te achei
Nem tudo que parece é
Bem aí desencantei
Na verdade, ali-ninguém
Em nada lembra o teu rosto
O que dirá todo teu corpo
que nunca sei por onde está
Se na José Clemente ando,
ali vou te procurar
Se na Getúlio passo
vou onde vagas pra te achar
Num botequim sem muito espaço
Praça 14 - no Ceará
Foges de mim bem mais que rápido
Nem a Constantino pra parar
Por quem será?
Que teu rosto se molha de tanto chorar
Por quem sorri?
Que as maçãs se projetam tanto assim
Por quem emudece?
Que tuas olheiras ensombrecem
Por quem teu sono é tão ruim?
Estranha!
Me é estranho tu ainda ser estranha
E viver como criminosa
tão distante
e numa fuga tamanha
Vou brindar a tua ausência
Quantas vezes for preciso
Até o dia em que estiveres
Sentada estranha aqui comigo
Colaboração do artista: Antonio Felipe
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